ANÁLISE DE FILMES: um instrumento de pesquisas qualitativas

Aos pesquisadores na área das Ciências Humanas que se valem da fenomenologia e da hermenêutica e que nos contextos naturais procuram obter uma aproximação verossímil da experiência do outro, sugiro a ferramenta de análise de filmes. Ofereço uma síntese do texto  elaborado por Manuela Penafria, disponível em www.bocc.ubi.pt. Bom proveito,

Analisar um filme implica realizar  duas etapas importantes: primeiro decompor, ou  descrever e, em seguida, estabelecer e compreender as relações entre esses elementos decompostos, ou seja, interpretar (Cf. Vanoye, 1994). A decomposição recorre pois a conceitos relativos à imagem (fazer uma descrição plástica dos planos no que diz respeito ao enquadramento, composição, ângulo,…) ao som (por exemplo, off e in) e à estrutura do filme (planos, cenas, sequências). O filme é o ponto de partida para a sua decomposição e é, também, o ponto de chegada na etapa de reconstrução do filme (Cf. Vanoye, 1994)

A crítica tem como objetivo avaliar, atribuir um juízo de valor a um determinado filme – trata-se de determinar o valor de um filme em relação a um determinado fim (a  contribuição para a discussão de um determinado tema, a sua cinematografia, a sua beleza, a sua verdade, . . . )

Como analisar?

a) análise textual. Considerar o filme como um texto, é  decorrente da vertente estruturalista de inspiração linguística dos anos 60/70 e tem como objetivo decompor um filme dando conta da estrutura do mesmo. O filme é dividido em segmentos (unidades dramáticas/sintagmas) em geral a partir de momentos que indicam a sua autonomia

Se seguirmos Christian Metz os filmes possuem 3 tipos de códigos: os perceptivos (capacidade do espectador reconhecer objetos na tela); culturais (capacidade do espectador interpretar o que vê na tela recorrendo à sua cultura, por exemplo, alguém vestido de preto em sinal de luto) e códigos específicos (capacidade do espectador interpretar o que vê na tela a partir dos recursos cinematográficos, por exemplo, a montagem alternada como indicação que duas ações estão a decorrer ao mesmo tempo, mas em espaços diferentes).

b) análise de conteúdo. Este tipo de análise considera o filme como um relato e tem apenas em conta o tema do filme. A aplicação implica,  identificar-se o tema do filme (o melhor modo para identificar o tema de um filme é completar a frase: Este filme é sobre . . . ). Em seguida, faz-se um resumo da história e a decomposição do filme tendo em conta o que diz a respeito do tema. Por exemplo, se o filme M, de Fritz Lang for visto nesta perspectiva faz-se a sua decomposição destacando ou as cenas em que o serial killer é capturado pelos ladrões, o que poderá remeter para uma discussão sobre a hierarquização da marginalidade e respectivas sanções; ou destacando a cena em que o serial killer se apresenta como uma vítima, problematizando a sua culpa e lançando – a para a sociedade em que vive. Outra opção seria destacar o plano final em que uma das mães afirma que nada poderá trazer as crianças de volta, o que torna todos os pais e, também, todos os indivíduos de uma sociedade responsáveis pelo que acontece às suas crianças.

c) análise poética. A autoria de Wilson Gomes (2004), entende o filme como uma programação/criação de efeitos. Este tipo de análise pressupõe a seguinte metodologia: 1) enumerar os efeitos da experiência fílmica, ou seja, identificar as sensações, sentimentos e sentidos que um filme é capaz de produzir no momento em que é visionado; 2) a partir dos efeitos chegar à estratégia, ou seja, fazer o percurso inverso da criação de determinada obra dando conta do modo como esse efeito foi construído.

d) análise da imagem e do som. Este tipo de análise entende o filme como um meio de expressão. Pode ser designado como especificamente cinematográfico pois centra-se no espaço fílmico e recorre a conceitos cinematográficos, por exemplo, verificar o uso do grande plano por diferentes realizadores.

 

 

 

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