DEVIR

CONVERSAS ENTRE NÓS

Adelma Pimentel

Eu sou Adelma Pimentel, coordeno o NUFEN junto com uma querida turma de gente que não tem medo de trabalhar e que elabora práticas de resistência, por exemplo, criar uma Revista de Psicologia Fenomenológica a partir da solidariedade intelectual de pioneiro no ano de 2002: a professora MS Sandra Bastos, o professor MS Francisco Bordin, a professora Drª Ana Maria D. Rodrigues de Souza, o professor Dr Janari Pedroso. O mês de outubro, claro que em minha ótica subjetiva, mas não egocêntrica, aceito que alguém considere seu mês de gênese belo,  é o mais bonito do ano, pois é o mês em que nasci, e que simboliza a celebração de uma das funções que exerço: a docência no ensino superior na Universidade Federal do Pará, na Faculdade e no Mestrado em psicologia. Porém, em Belém do Pará, a cidade morena e cheirosa, no dizer de Manuel Bandeira, é o mês em que a fé em Maria desabrocha e a humanidade se reinventa acercando-se do outro de uma maneira ímpar. O Núcleo de pesquisas fenomenológicas, existe  credenciado no CNPQ desde 2002. Há 10 anos estudamos e realizamos intervenções de psicoterapia e ensino acerca da violência psicológica que se estabelece entre os casais e as pessoas em geral, através da comunicação, da linguagem e dos símbolos. Hoje, os adolescentes do gênero masculino são nossos sujeitos de preocupação. A experiência acumulada se transforma em literatura que compartilho socialmente para contribuir com a formação de outros psicólogos, profissionais,  casais, mulheres e homens. A psicoterapia em grupo é mais rica, pois proporciona um suporte coletivo para troca de experiências e solidariedade. Os locais são  a clinica escola da UFPA, instituições parceiras da rede pública de atenção a violência contra a mulher, por exemplo a Delegacia da Mulher (DEAM), e atualmente a Fundação de assistência social ao adolescente. Não atendo em consultório privado. Criei no Diretório do CNPQ, em 2012, outro grupo de pesquisas o Núcleo de estudos interdisciplinares da violência,  NEIV em parceria com o NEV/USP para aprofundar os debates sobre as lógicas da violência que produz o sujeito e no sujeito as manifestações simbólicas e institucionais da violência psicológica. As motivações para  que  esta filha de um “típico representante da cultura patriarcal machista” e de uma mãe igualmente “representante feminina da mesma cultura” tomasse como objeto a violência psicológica que ocorre em casa de modos silencioso ou escandalosa foram uma premissa interna que orientava meus pensamentos:  Não quero este modo de vida. Serei livre psíquica e socialmente.  A consciência refinada de que não podemos nos submeter ao jugo do outro, associada às pequenas ações de preparação acadêmica, repudio e enfrentamento de meus pais iniciou aos 17 anos e quando comecei a cursar a Faculdade de Psicologia, e depois, a trabalhar. Os horizontes tornaram-se infinitos. Alguns exemplos de enfrentamento: dizer a minha mãe mil e mais uma vez para tomar uma posição que atualizasse seu modo de existir. Filhos precisam do suporte dos pais ou de um cuidador amoroso para ajuda-los a expressar suas questões existenciais e formar autosuporte criativo de modo a evitar que as meninas e as adolescentes engravidem ou se envolvam em relações afetivas em que a violência psicológica esteja presente desde o início. Para que isto não suceda, as mulheres requerem recuperar a autocompreensão da multiplicidade dos papéis de gênero que desempenham: mães, companheiras, profissionais, e sobretudo, espelhos de referência para suas filhas. Na impossibilidade em te-las nestas dimensões, as adolescentes deslocam a busca de apoio emocional para a rua; e os rapazes para as drogas e os jogos de virilidade e poder para afirmação da masculinidade. Outro exemplo de enfrentamento foi  Questionar meu pai a ação grosseira ante minha mãe,  ao que ele sempre reagia de modo autoritário gritando.  Meditando que a mudança é uma decisão dificil pelas implicações que dela decorrem como,  protótipo, a insegurança por lidar com o desconhecido, talvez seja necessário protestar  mais mil e uma vezes, nunca calar. Um dia nossa voz será escutada. Aliás, uma de minhas clientes,  recentemente se separou, após viver por vinte e dois anos um casamento falido. Em nossa última sessão, psicoterapeutica, neste mês de outubro de 2012, ela narrou – também vivia sob o peso da religião. Quando me casei prometi a ele (marido) e a Deus cuidar na saúde e na doença. Mas ele não fez o mesmo. Só vivia na farra e para mim ficava a parte dura. Hoje, tomei coragem e acabou o sentimento, a audiência com o juiz para determinar o valor da pensão para os filhos será em novembro . A despeito do peso que a ideologia religiosa tomou na siuação do casamento desta mulher, ela conseguiu desenvolver e expandir sua autoconsciência, separada reconstroi sai vida. . Considerando que cada pessoa vive em uma temporalidade, ou seja,  tem um ritmo para mediar suas ações, não é o tempo da psicoterapeuta, da assistente social, da  delegada, etc; que favorcerão o surgimento dos resultados ou do movimento do cônjuge que se sentir afetado por situações de vivência da violência psicológica – esta é outra premissa a atender  por quem realiza  trabalho interventivo. Não há como apressar o outro. Tenho a clareza que não é fácil para as filhas adolescentes imersas em questões existenciais da transição para o mundo adulto começar a perceber  seu contexto familiar de maneira crítica.  Esta é uma tarefa particular elaborada por cada uma, o que requer apoio amoroso de adultos disponíveis para cuidar; sínteses pessoais elaboradas a partir das análises dos modelos que circulam socialmente na ideologia das representações sociais de filha, pai, mãe, etc. Os processos de tornar-nos sujeitos são dolorosos e repletos de pressões. E  sobre o estado psicológico de uma pessoa que se permite conviver com esse tipo de violência dentro de casa sem percebê-la ou reagir a ela? Caras e caros  leitoras\es, para que entendam meu raciocinio, me sigam em um mergulho  no exame da lógica de uso das linguagens, sobretudo  das metáforas, já que estamos mergulhados em uma cultura marcada por palavras e símbolos que transmitem sistema de ideias que desqualificam as mulheres e tentam manter aprisionados o corpo, o desejo, o controle da sexualidade. Pensemos nas classes de mulheres criadas na cultura patriarcal e disseminada pelas mídias: a mulher “periguete”; a mulher “Maria chuteira”; a mulher “marrenta”; a mulher “funkeira”. Pensemos ainda na mulher que trabalha fora e quando volta para  casa, tem mais uma jornada sem a cooperação do parceiro nas tarefas do cotidiano; que recebe exigências, comparações e  pressões para se tornar igual ao modelo de mulher comercializado pelas mídias estéticas: bela, cheirosa, magra, vestida por marcas, etc.  Quando a mulher não atende as cobranças do companheiro/ namorado ou esposo pode deixar de emitir respostas conscientes aos maus tratos recebidos passando a realizar ações mecânicas com o objetivo de “livrar-se” da    pressão da situação ou de tornar-se um ideal que é incompativel com seu biotipo e subjetividade. Mais uma forma de violência psicológica e tratamento desigual para os gêneros feminino. Vale ressaltar que a colagem dos rótulos “periguete’, “Maria chuteira”, etc. derivam da tentativa da masculinidade hegemônica e retomar o controle sobre a sexualidade e a corporeidade das mulheres e de reeditar as dicotomias entre as tipologias de santas/para casar e de putas/para “comer e lazer”.  Cabe deixar para as leitoras algumas interrogações:  qual o objetivo da industria têxtil ao fabricar vestidos e saias justas e curtas? Vender estas peças de vestuário requer a elaboração de um marketing em que as mulheres são usadas como modelos para manter as tipologias de mulheres, e ao mesmo tempo estabelecer hierarquia e classificação entre as mulheres consoante suas vestimentas? Quais as relações entre a vestimenta   justa e curta e a ética/moral  das mulheres?  Pensem e não se submetam as castrações das indústrias da beleza e da moda que ao mesmo tempo em que vendem/ estimulam as mulheres para consumir tais peças de vestuário as rechaçam codificando-as em rótulos.

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